O sonho de uma árvore de Natal

Pense rápido: se você pudesse escolher, seria uma árvore de natal exuberante no canto da sala ou um pé de laranja comum no fundo do quintal? Provavelmente muitos, sem pestanejar, dirão que gostariam de ser uma árvore de Natal. Não é pra menos: o centro das atenções da casa, rodeada de presentes, enfeitada com toda sorte de penduricalhos graciosos e luzes coloridas, sempre frondosa, sempre destaque na decoração natalina, abrigada do vento e da chuva, amada pelas crianças, tratada com cuidado e guardada com jeito.

Já o pé de laranja é comum no fundo do quintal. Por sua vez é rústico, não chama a atenção, não se destaca das outras árvores frutíferas, recebe podas dolorosas, está sujeito à toda intempérie e injúrias de insetos e pragas, é apenas mais uma árvore no pomar. Eu sei que pode parecer uma comparação “sem noção”, mas é uma boa parábola moderna.

natal

Muitas vezes vemos pessoas se esforçando por um lugar ao sol, uns quinze minutos de fama, isso quando não se angustiam por não serem o centro das atenções ou o pior, não produzindo frutos que atraiam as pessoas a si. Voltando à árvore de Natal, é absolutamente artificial. Não tem raízes, não tem vida, não se reproduz, não tem absolutamente nada a oferecer, a não ser a própria e efêmera beleza estética. Torna-se esquecida por longos meses do ano, é facilmente desmontada ou substituída. Por mais deslumbrante que seja, um simples esbarrão ou um leve chacoalhar desfaz todo o encanto.

Já uma árvore frutífera é muito mais interessante. Ainda que tenha vida curta, já terá se reproduzido em milhares de sementes ou brotos, aqueles mesmos que surgem vigorosos após a poda. Vem a chuva, o vento e ela continua lá, pronta para no tempo certo, mostrar a que veio, alimentar quem dos seus frutos usufrui. É claro que as duas tem propósitos absolutamente distintos de existir, mas ambas são árvores. A laranjeira, para ostentar suas esferas amarelas e suculentas, tem que se virar para buscar alimento no solo, tem que se pender ao sol pra fotossíntese, tem que desenvolver suas raízes profundamente pra se firmar e sugar a água das camadas mais profundas. Isso é a dinâmica da vida, é o milagre da criação! A árvore de Natal com suas esferas lindas, porém vazias, com seus galhos sem seiva e sua sustentação em vaso de areia, é apenas um adorno estético, um símbolo, uma fantasia.

Penso muito nestas coisas quando chega o Natal. A Bíblia nos compara a árvores que podem ser julgadas pelos frutos que produzem. Fomos plantados por Deus não para fazermos de conta que somos de verdade, não para funcionarmos como enfeites descartáveis e buscarmos a nossa glória egoísta ainda que fugaz. Dentro de nós deve fluir a seiva que produz a vida que expressa a glória d´Ele: o amor, esse mesmo que parece tão bonito em volta da árvore na sala em noite especial de sorrisos amarelos, mas que precisa ser a essência no esforço, na flor que vira fruto, na estação própria, alimentando todo aquele que de nós se aproximar.

Cá pra nós, acho que, se uma árvore de Natal pudesse sonhar, penso que sonharia ser uma árvore frutífera perene…Talvez perdesse o status e o glamour, mas certamente ganharia cheiro, sabor, vida! De quebra, ainda seria inspiração para o próprio Jesus quando procurou na natureza algo a que pudesse comparar aqueles por quem deu sua própria seiva: os seres humanos!

Pr. Anibal Filho

Doutor em Produção Vegetal pela UFG e Pastor auxiliar da Igreja Batista Renascer.

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