Precisamos falar sobre a dengue!

Atualmente, os olhares de todo o mundo estão direcionados a pandemia pelo coronavírus, mas é extremamente necessário falar que no Brasil, mudanças rápidas nas condições de tempo, como chuvas e clima quente, característicos da estação do verão iniciaram, e com ela os casos alarmantes de dengue.

Segundo o Ministério da Saúde, estima-se 90.335 casos prováveis de dengue no Brasil no mês de fevereiro (taxa de incidência de 42,3 casos por 100 mil hab.); um aumento de 43,2% de casos registrados para o mesmo período no ano de 2021. Nesse contexto, a região Centro-Oeste apresentou a maior taxa de incidência do país, com 236,6 casos/100 mil hab.

A dengue é uma doença viral transmitida pela fêmea dos mosquitos Aedes aegypti. Esses mosquitos, aparentemente inofensivos, também transmitem chikungunya e zika, vivem em média 45 dias e possuem hábitos de picar nas primeiras horas da manhã e nas últimas do período vespertino.

Existem 4 sorotipos do vírus que causam a dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4). A recuperação da infecção fornece imunidade ativa e duradoura contra o sorotipo adquirido, ou seja, os infectados, por exemplo, pelo sorotipo 2 tornam-se imunes em relação a este, mas podem vir a ser infectados por qualquer um dos outros 3 sorotipos. Todavia, o risco de desenvolver dengue grave aumenta com infecções secundárias.

A dengue se apresenta com febre alta (39° a 40°C) de início abrupto, cefaleia, dor retro-orbitária, exantema, prostração, mialgia e artralgia. Nesses casos, enquanto aguarda atendimento, é necessário observar sangramentos, realizar repouso e aumentar a ingestão de líquidos, em especial o soro caseiro, haja vista que hidrata, repõe os eletrólitos e regula a temperatura corporal. Ademais, medicamentos com/ou derivados do ácido acetilsalicílico (AAS) e anti-inflamatórios derivados (como a dipirona, ibuprofeno), devem ser abolidos, pois aumentam significativamente o risco de hemorragias.

Nas unidades de saúde, é imprescindível que se realize a prova do laço, já que permite identificar a fragilidade dos vasos sanguíneos, bem como solicitar hemograma para verificar se as plaquetas (fragmentos importantes no processo de formação do tampão plaquetário durante a resposta normal à lesão vascular) estão dentro da normalidade. Após 3 a 7 dias, alguns pacientes podem evoluir para a fase crítica da doença, considerada dengue hemorrágica, marcada por alterações da coagulação sanguínea e necessidade de cuidados especializados.

Acredita-se que a epidemia da dengue evidencia as desigualdades sociais já existentes no mundo, as mudanças ambientais e a cultura da despreocupação com o autocuidado e também com a saúde do outro, ou seja, com a saúde coletiva.

Por fim, é preciso investir na educação e no saneamento, e em esforços colaborativos em tecnologias, como vetor transgênico, mosquito irradiado e a produção de vacinas. Além, é claro, dos esforços já conhecidos e habituais contra o aparecimento de novos focos. São eles: não deixar água acumulada ou parada; manter as calhas sempre limpas; sempre que guardar garrafas ao ar livre, virá-las de cabeça para baixo; e o mais importante, engajar seus vizinhos a fazerem o mesmo.

Marcos André de Matos

Enfermeiro. Doutor em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás. Docente da Faculdade de Enfermagem FEN/UFG. marcosmatos@ufg.br

Você também vai gostar de ver

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
0
Would love your thoughts, please comment.x
()
x