Os pequenos começos

Quem olha para os despretensiosos olhos d’água que brotam na Serra da Canastra e começam a se escorrer lentamente, talvez não possa imaginar que ali está nascendo o grandioso e imponente Rio São Francisco. Que camponês desavisado nunca olhou para aqueles pequenos poços e, meneando a cabeça, não arriscou a dizer que aquilo não daria em nada? Pois é. Poderíamos usar a analogia da pequena semente de milho, que vai se multiplicar em várias espigas ou, para ser bem modernoso, o exemplo de um simples post polêmico, que provoca uma avalanche de comentários nas redes sociais.

Quando eu era criança ouvi um conto de um homem que fez fortuna com apenas um ovo que lhe foi roubado, cozido e devorado por um vizinho. Décadas depois um advogado apresentou uma extensa conta de quanto aquele ovo poderia ter rendido ao seu cliente, se tivesse sido fecundado. Um juiz bateu o martelo garantindo a gorda indenização ao espertalhão. Por mais que a história pareça fantasiosa, ela esconde princípios valiosos. Tudo que é grande nasceu pequeno, mas muitas vezes, nos esquecemos disto.

Numa sociedade quase esquizofrênica por resultados espetaculares quase imediatos, onde as pessoas são medidas por seus poderosos feitos, e não pela grandiosidade de seus gestos, parece impossível dar o devido tempo para que pequenos projetos, devidamente concebidos e bem conduzidos, mostrem a que vieram. Em um mundo onde a ostentação e fama repentina são agressivamente estimulados, parece constrangedor falar de começos, de inícios ou de prazo para amadurecimento. A bem da verdade é que só os gananciosos, os presunçosos e aqueles movidos pela vaidade insana agem assim. Tem muita gente correndo atrás de likes, de curtidas, de views… mas, tem muita gente também cultivando algo que começou pequeno, e que já está crescendo de forma saudável e sustentável.

Às vezes parece que o mundo parou de se importar com as pequenas coisas. Todavia, é também verdade que tem muita gente sensata e prudente lutando para edificar coisas que se perenizem pela excelência e necessitam de bases sólidas, que são construídas e não improvisadas. O livro do profeta Zacarias traz uma indagação interessante: “Quem despreza o dia das coisas pequenas?” Esta pergunta vale pra você que acabou de se formar e está dando os primeiros passos profissionais, mas também para quem já está se aposentando e pretende recomeçar. Antes de pensar em fazer fortunas, melhor pensar em edificar os sustentáculos de um edifício que, se Deus quiser, há de encher os olhos.

Voltando aos pequenos começos, um simples folheto evangelístico entregue, pode estar semeando uma grande igreja. Uma pequena oferta missionária pode custear uma grande campanha em algum lugar, e os resultados povoarão os céus. Para quem prefere a aprovação de Deus ao aplauso do mundo, uma pequena obra, um pequeno começo, uma simples iniciativa pode produzir muitos frutos pra Sua glória.

Termino esta reflexão citando uma parábola de Jesus, onde um senhor recompensa o servo por sua fidelidade no pouco, prometendo colocá-lo no muito. Que saibamos valorizar não apenas nossos pequenos começos, mas os pequenos começos de quem está a nossa volta, esperando a nossa palavra de ânimo, encorajamento, visão experiente, esperança e confiança na fidelidade de Deus. Ele mesmo plantou uma pequena multidão, o Espírito Santo deu o crescimento e Ele vai colher bilhões de almas. Pense nisto!

Pr. Anibal Filho

Doutor em Produção Vegetal pela UFG e Pastor auxiliar da Igreja Batista Renascer.

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