Uma resposta nas asas do vento

Do alto do monte dava para ver as luzes da cidade e os faróis dos carros ruidosos que pareciam voar pela rodovia ao longe. O capim já começava a acumular as gotas de orvalho da noite e havia uma pequena clareira onde, de vez em quando, as pessoas se reuniam para orar até de madrugada. A baixada fluminense era conhecida pelas histórias de violência, sumiços de pessoas e crimes bárbaros.

Ainda assim, aqueles destemidos jovens, fervorosos estudantes que eram, se juntavam aos finais de semana, longe dos muros da Universidade onde se alojavam para estudar tão longe de casa, para terem comunhão e orarem juntos. Eram meses sem ver os pais e irmãos, então o jeito era se apoiarem mutuamente, literalmente, no partir do pão e nas orações, como no tempo dos apóstolos.

Mas aquela noite seria marcada para sempre, pelo menos para aquele que abraçava o violão e cantava fitando as estrelas com os olhos marejados. Já era quase cinco meses longe da humilde casa há mais de mil quilômetros, no interior do Brasil. Era o dia do aniversário de seu irmão mais velho e ele aproveitou para interceder. Olhou no relógio de pulso. Uma da manhã em ponto! Uma oração fluiu de seus lábios num lampejo de dúvida se Deus realmente ouvia as suas preces, se valia a pena estar ali, se realmente se importava. Quero um sinal – ele orou.

Bem longe dali, numa casa humilde sem reboco e sem energia elétrica, se ouvia o ressonar de todos que, certamente cansados da jornada diária, agora repousavam ao som das criaturas da noite, sob o manto estrelado do céu. O farfalhar das copas das grandes árvores de frente à casa, as janelas fechadas, o silêncio da madrugada, cenário bucólico, uma noite como tantas.

De repente, uma rajada de vento, sabe se lá vindo de onde, parecia ter uma única direção: a janela do quarto de casal, a qual se abriu quase que instantaneamente, causando um arrepio na boa senhora que dormia ao lado do marido já de meia idade. Foi rápido, como uma massa invisível que entrou delicadamente no quarto, lambeu as paredes e os móveis, varreu a cama e saiu por onde entrou… O silêncio voltou a reinar. O que terá sido isto? Perguntou a senhora a si mesma enquanto aproveitou para tomar um copo d’água na cozinha antes de retornar à cama e se recobrir. Adormeceu pensativa, mas sem medo, em paz até, como se tivesse sido abençoada por aquilo.

Fim de ano, férias escolares. Seriam dois meses para ficar em casa, conseguir uma atividade temporária, provavelmente no campo, e juntar algum dinheiro para as despesas do semestre seguinte. A viagem era longa, mas o último trecho, apesar de se chacoalhar pela estrada de terra que à época completava o trajeto à sua cidade, parecia ser o mais feliz. Longos meses de espera pelo momento de saborear a comida da mãe, se juntar ao numeroso grupo de irmãos e passear na fazenda dos avós, quando sobrasse um tempinho que fosse.

Em uma noite, quando quase todos já tinham se recolhido, o jovem estudante de férias se recostou às costas da boa senhora que parecia tentar apagar as brasas do fogão à lenha antes de dormir.  “Aconteceu algo muito estranho outro dia, que até hoje não entendi” – disse a mãe como quem conta algo com o que ficou intrigada. “Um vento abriu subitamente a janela do quarto, deu uma volta sem causar transtorno e pareceu bater em retirada”.

O jovem ficou pensativo por um instante e, de sobressalto, só conseguiu perguntar: “Sabe o dia e a hora, mãe? ” Ela não titubeou e respondeu em seguida. “Fácil lembrar. Era a madrugada do dia de aniversário de seu irmão, exatamente uma hora em ponto. Eu tenho certeza, porque a primeira coisa que faço quando acordo de madrugada é olhar para o relógio de parede para ver quanto tempo ainda falta para amanhecer”. Ele se arrepiou todo. Foi exatamente o sinal que pediu na oração: que o anjo do Senhor visitasse a minha casa naquela mesma data e no mesmo horário, de forma que eu saiba que realmente aconteceu!

Foi difícil pegar no sono aquela noite, as lágrimas impediam. “Deus me ouve, me ama, se importa comigo… repetia baixinho para si mesmo sob as cobertas! Ele nunca parecia precisar de um sinal, mas este, sem dúvida, avivou a chama ardente em seu jovem coração!

Pr. Anibal Filho

Doutor em Produção Vegetal pela UFG e Pastor auxiliar da Igreja Batista Renascer.

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