Qualidade de vida na infância: O adulto enquanto promotor de saúde na infância

A proteção e a promoção da qualidade de vida das crianças e adolescentes nos trazem grandes desafios, expressa uma amplitude de processos que envolve políticas públicas, esferas biológicas, psicológicas e sociais. Na atualidade, a atenção à infância exige grandes, eficientes, abrangentes e criativos esforços. As interposições na saúde da criança devem ser indiretas e direcionadas aos adultos, que são capacitados para cuidar e proteger esses menores, não somente por uma questão legal, mas também ética.

Vivemos em uma sociedade pouco empática e, via de regra, insensível aos fatores de promoção e proteção da saúde das crianças. Muitas ações são negligenciadas, tanto pelo poder público, quanto pelos seus genitores ou mesmo cuidadores. Há ausência de compreensão, comprometimento e responsabilidade sobre o influente papel do adulto na formação e desenvolvimento da maturidade da criança.

Segundo os princípios da proteção e promoção integral, crianças e adolescentes devem ser tratados como sujeitos de direitos, até mesmo como grupo prioritário, tendo em vista o estágio de desenvolvimento biopsicossocial. No Brasil, os direitos fundamentais à infância e adolescência são relativamente recentes, e encontram-se assegurados no Estatuto da Criança e Adolescente, o ECA, regulamentado no início da década de 90.

Como adultos provedores de proteção, podemos contribuir fortemente com o desenvolvimento das crianças, propiciando um comportamento de pronta atenção, coerente e estável, favorecendo a estes pequenos um sentimento de confiança, tanto em si mesmos quanto nas outras pessoas. Desta forma, algumas competências fundamentais ao enfrentamento da vida em sociedade e regulação das emoções, como empatia, resiliência em situações de conflito e frustração serão melhor construídas.

Se perguntássemos a uma criança “o que é uma vida de qualidade pra você?”, certamente obteríamos diversas respostas inusitadas e, com certeza, as respostas mais simples possíveis, como tomar banho de chuva, pisar em poças de lama, se lambuzar com um bolo de chocolate, se sujar de tinta, jogar bola com o papai ou ajudar a mamãe na cozinha. Provavelmente, em muitas respostas estariam inclusos os pais ou adultos, que representam segurança e afeto a elas.

Infelizmente nos dias atuais a alegada “falta de tempo” causada pelo ativismo social, nos impede de desfrutarmos de grandes momentos de qualidade com nossos filhos. Por exemplo, temos investido pouco tempo em contar historinhas antes de dormir, investir em literatura infantil, promover refeições em família, passear no parque, estimular e participar de brincadeiras criativas que não necessariamente dependam de tecnologia. Esta negligência traz um impacto negativo na saúde emocional, relacional e mesmo física de nossas crianças.

Sabe-se que, uma vez que os pequenos acumulam carências afetivas, ausência de atenção e carinho e falta de estímulos diversos, comprometem a sua qualidade de vida. O esforço deve ser voltado para a edificação de um lar que ofereça paz e segurança, o que, consequentemente, vai gerar memórias afetivas que contribuirão positivamente para um neurodesenvolvimento saudável.

Natação, inglês, aula de piano, programas educativos na TV, balé ou judô são de grande importância e contribuem muito com o desenvolvimento integral das crianças, mas nada pode substituir a atenção afetiva e de qualidade que os adultos significantes geram nos menores.

Portanto, meu recado para esse dia das crianças vai para os adultos, pais e responsáveis: seja cuidadoso com a saúde emocional dos pequenos, pois isso fará grande diferença no futuro deles.

Amanda de Sousa Pinto Andrade

Psicóloga Comportamental pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, pós-graduada em Neuropsicologia com ênfase em atendimento infantil e adolescência

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