Um dia Jesus foi indagado sobre quem seria o maior no Reino dos Céus e respondeu aos seus discípulos que, quem não se tornasse como aquela criança, de modo algum sequer entraria no reino, referindo-se à humildade dos pequeninos.
Talvez este fato nos leve a crer que todas as crianças, a princípio, são humildes. Quando consideramos o real sentido da palavra, entendemos que humildade é o conhecimento pleno das limitações, o que leva alguém a buscar uma relação de dependência de alguém e de interdependência dos semelhantes. Sendo assim, ela não se projeta sobre os outros na tentativa de demonstrar superioridade.
Uma criança, enquanto inocente e ingênua, é assim. À medida que cresce, este pequenino ser é transformado gradativamente em adulto, sendo influenciado por diversos fatores formando conceitos, elaborando valores, adotando princípios, mas esta já é outra história. Voltando ao fato de termos que nos comportar como uma criança para entrarmos no Reino dos Céus, somos inevitavelmente levados a uma autoanálise, uma reflexão sobre nossa essência e atitudes.
Você ainda se lembra de como se comportava como criança até se entender por gente no sentido mais abrangente da palavra? Quando você se olha no espelho, a despeito das mudanças físicas, você consegue enxergar aquela criança dentro de você? São tantas camadas na embalagem que temos dificuldade de enxergar o conteúdo, não é mesmo?
Não temos saída. Temos que observar as crianças e aprender com elas. Vamos nos ater às crianças puras como referência, certo? Tudo realmente precisa começar com a humildade, afinal, se não houver pobreza de espírito (o que aliás é uma virtude, não um defeito), o sentimento de superioridade nos impedirá de nos abrirmos para aprender algo com os outros. Uma criança é descomplicada, simples, transparente. As intenções são claras, as motivações são explícitas. Não existem entrelinhas ou códigos. Sermos inocentes para o mal e excelentes para o bem é algo que as crianças podem nos ensinar.
O nosso contaminado juízo de valor, principalmente para com aqueles que não se enquadram em nossos padrões, nos obriga a aprender com as crianças sobre não rotular ou discriminar, ainda que nos seja estranho. Vamos aos contrastes: nas crianças, espontaneidade, nos adultos sincericídio. Nas crianças, emoções sinceras, nos adultos, hipocrisia. Nas crianças, a visão do melhor das pessoas, nos adultos, o preconceito. Por aí, vai… temos que aprender a dizer que amamos, falar das emoções que sentimos, quebrar as barreiras que nos separam e esquecer as mágoas que nos dividem. Crianças lidam melhor com todas estas coisas.
O que dizer de sonhos, imaginação, positividade, elementos tão presentes nas crianças e tão caros aos adultos? Já parou para pensar que entre os verbos que mais usamos em nossa jornada do crescimento pessoal estão: resgatar, ressignificar, recuperar, recompor, restaurar, retomar, restituir, transformar? Não é difícil perceber que parece que mais perdemos do que ganhamos e o tempo todo precisamos nos ajustar.
Talvez, se nos tornarmos como crianças como Jesus ensinou sejamos muito mais leves e felizes, plenamente conscientes de que dependemos de Deus e de uma relação saudável com os nossos semelhantes. Certamente, assim teremos muito menos a consertar e muito mais a cultivar e preservar. Pense nisto, minha doce criança, pense…